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Natal silenciosa: o mapa oculto do crime nas periferias da capital potiguar

Nas belas paisagens de Natal, capital do Rio Grande do Norte, o turismo disfarça a realidade de um território cada vez mais dividido, não por muros, mas por facções. Por trás das dunas, das praias e da hospitalidade potiguar, ergue-se silenciosamente um regime paralelo, onde o Estado é substituído pelo medo e o comando do asfalto vem de dentro das celas.

O domínio de territórios pelas facções criminosas deixou de ser exceção e se tornou regra em bairros periféricos como Felipe Camarão, Mãe Luiza, Nossa Senhora da Apresentação Pajuçara, Lagoa Azul, Igapó, Planalto, Redinha, Cidade Nova, Quintas. Em cada viela, as cores das facções marcam os limites invisíveis de um poder que se impõe pela força, pela ameaça e pela ausência crônica do Estado.

Não se trata apenas de tráfico de drogas. É o controle sobre a circulação, a justiça própria, os horários do comércio, o aliciamento de jovens, o monopólio do medo. Para muitos moradores, a polícia é uma presença eventual; já os soldados do crime estão ali todos os dias armados, organizados e conectados a redes nacionais que financiam a guerra urbana.

A ascensão desse poder paralelo não se deu da noite para o dia. Foi o resultado de décadas de abandono, de políticas públicas ineficazes, de desigualdade estrutural e de um sistema prisional que, em vez de conter o crime, tornou-se seu quartel-general. Dentro dos presídios, líderes ditam ordens com celulares e influência, transformando bairros inteiros em campos de disputa e população em reféns.

O domínio sobre as periferias é estratégico e simbólico. Controlar o território significa controlar vidas, narrativas, rotas e dinheiro. Enquanto isso, os moradores são forçados a conviver com a tensão constante silenciar diante da violência ou ser engolidos por ela.

A capital do RN vive hoje um momento crítico. É preciso mais que policiamento: é necessário inteligência, ação social, investimento real em educação, cultura e geração de renda. A disputa pelos territórios é, antes de tudo, uma disputa por esperança.

Porque aonde o Estado não chega, o crime ergue sua bandeira. E onde falta oportunidade, sobra terreno fértil para a barbárie.

Ricardo Roland
Consultor de segurança

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